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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

José Paulo Paes: o poeta e o ensaísta


José Paulo Paes: o poeta e o ensaísta
Onde um lúcido menino
propõe uma nova infância.

Ali repousa o poeta.
( José Paulo Paes. Escolha de túmulo)

A Companhia das Letras publicou, em 2008, dois livros fundamentais de José Paulo Paes – Poesia Completa e Armazém Literário. Poesia Completa reúne poemas e Armazém Literário é uma coletânea de ensaios.
Na maturidade, o poeta se dedicou à literatura infantil e publicou vários livros para o público infanto-juvenil. Rodrigo Naves, na apresentação de Poesia Completa, afirma que as ilustrações que acompanhavam os poemas infantis dos livros eram discutidas carinhosamente entre o poeta e os ilustradores.
Naves afirma, ainda, que, na literatura infantil, José Paulo Paes conseguiu sucesso que superou tudo o que ele tinha publicado antes, e atribui esse fato à demanda desse tipo de literatura e a excelente qualidade dos livros de poesia para crianças.
Poesia Completa e Armazém literário contemplam o leitor adulto. Rodrigues Naves fez uma apresentação com riqueza de citações e de informações sobre o poeta. Vilma Arêas foi a responsável pela apresentação do livro de ensaios.
José Paulo Paes, modestamente, se dizia “um poeta como outro qualquer” e em tom de autoironia se intitulava “ o melhor poeta da minha rua” , seguida da explicação – sua rua era muito pequena, só havia um poeta, “ele-mesmo”.
Não faltou na seleção organizada por Vilma Arêas o excelente ensaio que José Paulo Paes escreveu sobre Augusto dos Anjos – “Uma microscopia do monstruoso”.
É conveniente lembrar que, no livro autobiográfico – Quem, eu? Um poeta como outro qualquer (Ed. Atual, 1996), José Paulo Paes revela que, na adolescência, o Eu e outras poesias de Augusto dos Anjos, foi um livro fundamental na sua formação literária. A respeito, ainda, do poeta paraibano, ele diz:
A poesia de Augusto dos Anjos, com suas angustiadas indagações sobre o sentido da existência humana, com as suas visões de pesadelo de morte e de decomposição dos seres vivos, com seu esmiuçamento ora microscópico ora telescópico dos mistérios do universo, me impressionaram profundamente. (1996:27)
A publicação desses dois livros veio comprovar que estamos diante de um poeta maior e de um crítico lúcido e instigante que sabia lidar, com mestria, com a Poesia, a Arte e a Cultura.

Literatura para todas as idades




Literatura para todas as idades
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil/PB)

O reconhecido crítico brasileiro Antonio Candido disse, certa vez, que todo bom livro de criança serve para adulto e prossegue o crítico – o grande, o bom conto infantil é, portanto, o que vale igualmente para adultos. Imbuída do pensamento de Antonio Candido, iremos tecer comentários sobre livros produzidos para crianças e jovens, mas que certamente irão agradar aos adultos.

O BAÚ DE SEU MACHADO. Sílvia Eleutério e Márcia Kaskus. Ilustrações de Victor Tavares. Rio de Janeiro: Zeus, 2007.

Machado de Assis para crianças? Será possível? Já houve adaptações dos romances de Machado de Assis para jovens e belíssimas recriações do texto machadiano. Recentemente Moacyr Scliar recriou Dom Casmurro e escreveu “Ciumento de carteirinha”, mas Machado para crianças com texto bem dialogado parecendo peça teatral! Sim, gente, é isso mesmo, Machado de Assis para crianças.
Silvia Eleutério e Márcia Kuskas vêm desenvolvendo um trabalho na Academia Brasileira de Letras com o título de Ciclo de Leituras – Dramaturgia de Sempre com a finalidade de apresentar autores consagrados da dramaturgia brasileira ao público que freqüenta a ABL. Em 2003, as duas se reuniram e criaram o texto infantil O Baú de Seu Machado que agora, em 2007, aparece em livro pela editora Zeus.
Para fazer as ilustrações, foi convidado o desenhista e ilustrador Victor Tavares que pesquisou muito sobre o Rio antigo, o Rio da época de Machado de Assis e, com seu talento, criou cenários, casarios, ruas estreitas, lampiões, tudo à moda antiga.
Os personagens/moradores do livro são aqueles criados pelo bruxo do Cosme Velho. Seu Machado, o protagonista, é Machado de Assis, com traços de Simão Bacamarte, personagem meio louco do conto O Alienista. Aparecem, ainda, a cartomante, o imperador D. Pedro II, Deolindo e muitos outros, todos de forma bem jocosa com falas exageradas e traços caricaturais.
É livro para crianças grandes e pequenas. Quem assistiu ao espetáculo na ABL gostou, quem leu o livro também gostou. E você leitor? O que está esperando? Encomende o livro na livraria mais próxima de sua casa ou peça pelo reembolso postal, você não vai se arrepender.

A INFÂNCIA DE ZIRALDO. Audálio Dantas. Projeto gráfico de Camila Mesquita. São Paulo: Callis, 2007.

Ziraldo é cartunista, escritor, ilustrador, amado por crianças e adultos, é mineiro de Caratinga( MG) e começou a desenhar aos três anos de idade e, segundo seu biógrafo Audálio Dantas, não parou nunca mais.
Ziraldo é o filho mais velho de Dona Zizinha e Sr. Geraldo e da junção dos nomes dos pais surgiu ZI+RALDO = ZIRALDO. O menino foi criado no meio de cinco irmãos, três homens e três mulheres.
Quando estava com três anos, a família mudou-se para Lajão e foi nessa cidade que o menino descobriu o mundo. No fundo do quintal de sua casa passava um rio, o rio Doce. Para os olhos do pequeno Ziraldo, esse rio era um mar de água, rio capaz até de engolir menino. Um dia um menino foi levado pelo rio e uma jangadinha desceu o rio para procurar o desaparecido. Essa é uma cena que ficou gravada na memória de Ziraldo como uma das mais tristes lembranças de sua infância.
Ziraldo morava em uma casa com quintal grande, todo cercado por muros altos e brancos e foi nesse muro todo branco que Ziraldo começou a fazer seus primeiros desenhos. Foi também nesse período, vivendo em Lajão, que o menino despertou para os quadrinhos através dos gibis. A professora Maria do Carmo implicava com o gosto de Ziraldo pelos gibis. Quando encontrava uma revistinha na sala de aula armava um escândalo. Para essa professora o gibi “era uma indecência”, mas Ziraldo não se incomodava com as implicâncias da professora e, ao lado dos gibis, lia também livros - Tesouro da Juventude, Robinson Crusoé e quase toda coleção de Monteiro Lobato, tudo foi devorado pelo freqüentador da biblioteca da escola.
O biógrafo narra um episódio da vida de Ziraldo que merece ser contado. Certo dia um fotógrafo veio tirar o retrato da família. De repente, Dona Zizinha pede para que o fotógrafo esperasse um pouco, pois faltava o melhor amigo de Ziraldo e foi buscar correndo o amigo. E quem era o amigo? Um livro ensebado, lido e relido pelo pequeno. A paixão pelo livro é coisa muito antiga! No retrato da família, lá está Ziraldo com o livro na mão, essa foi outra cena que marcou a sua infância. Não causa estranheza a afirmativa do escritor: Ler é melhor do que estudar.
Audálio Dantas é alagoano de Tanque d´Arca e grande amigo de Ziraldo e gosta de escrever sobre a infância dos escritores. Camila Mesquita, responsável pela parte gráfica do livro, organizou os desenhos, retratos da família, a diagramação do livro, tudo muito bonito e bem simples. É leitura agradável que irá cativar leitores de 8 a 80 anos.